Responsabilidade Social e Ética nos Serviços Funerários
Autoria: Breyner Estanislau Silva de Carvalho
RESUMO
O presente artigo tem o intuito de apresentar os
resultados do estudo a respeito do posicionamento das organizações funerárias
diante da preocupação com a Responsabilidade Social e a Ética. Os serviços
funerários atuam junto aos seus clientes em ocasiões de extrema fragilidade
emocional, consequência da perda de entes queridos, e como tal, os conceitos éticos
e de responsabilidade social, parecem assumir uma dimensão maior e, portanto passível
de análise. O trabalho aborda conceitos contemporâneos do tema sob a visão de alguns autores,
quanto à Responsabilidade Social externa e interna das organizações e as orientações éticas corporativas, em função dos
aspectos culturais, econômicos e políticos. Neste sentido procura-se confrontar
visões conceituais com evidências dos serviços funerários prestados em nosso
país e igualmente em países como a Itália e Estados Unidos. O estudo conclui
que o segmento funerário tem buscado cada vez mais a profissionalização, o que
não era uma preocupação do setor há poucos anos atrás. Procura-se também
identificar a regulamentação vigente do setor, em busca do compromisso
ético com as comunidades. Porém este movimento está longe de dizimar algumas
barbáries que alguns cidadãos ainda sofrem diante da perda de seus entes
queridos no trato com as organizações funerárias. Por fim, pretendeu-se
iniciar uma discussão, identificando as fragilidades do serviço funerário e enfatizando
os esforços que o setor tem feito em busca da profissionalização.
1. INTRODUÇÃO
Identificar as fragilidades e deficiências dos serviços prestados pelas
empresas funerárias motiva a busca do entendimento da real importância da profissionalização
do setor, visto que qualquer pessoa é potencialmente cliente dos serviços
destas empresas. A empresa funerária tem uma importância social que vai além
das diretrizes e estratégias organizacionais gerais e como tal, deve, sobretudo, se preocupar com os
preceitos éticos e com a responsabilidade social no exercício de suas
atividades. Desta maneira, como uma empresa prestadora de serviços funerários
pode contribuir para o desenvolvimento da ética e do comprometimento com a responsabilidade social, sendo que o serviço
oferecido é direcionado a clientes que se encontram em momentos de demasiada
fragilidade emocional? É o que se pretende apresentar com este trabalho,
o qual tem como objetivo contextualizar as ações das empresas funerárias no
campo da Ética e da Responsabilidade Social.
2. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL – A IMPORTÂNCIA NO NOVO CENÁRIO
EMPRESARIAL
Atualmente as
pessoas, em geral, apresentam uma maior preocupação com o bem-estar e a
qualidade de vida, consubstanciadas numa ética de valorização do ser humano, ao
invés do padrão de produção capitalista, o qual prega a realização econômica em
detrimento da realização pessoal. Há também uma maior conscientização da
importância da participação das empresas na preservação do meio ambiente, da
participação dos trabalhadores na tomada de decisão e nos resultados da
atividade produtiva e da necessidade de melhoria dos padrões de qualidade de vida da comunidade que com que ela
se relaciona. Esse contexto tem trazido a discussão sobre ética e
responsabilidade social das empresas para a literatura econômica, administrativa
e jurídica, sem contar que, tradicionalmente, esses temas são abordados
por filósofos e sociólogos. A inclusão
destes temas tem colaborado, inclusive, para o surgimento de associações empresariais
e acadêmicas envolvidas na disseminação de práticas eticamente corretas e socialmente responsáveis. O benefício da
realização dessas práticas ocorre não somente para as organizações
envolvidas, mas também para todos os envolvidos ou impactados pelas atividades
econômicas levadas a cabo pelo setor empresarial, os chamados stakeholders. Assim,
tem sido possível a uma parcela significativa da sociedade, adquirir
conhecimentos sobre ética. Ao mesmo tempo a sociedade pode esperar, e exigir,
das empresas que elas contribuam para o desenvolvimento da comunidade, sendo
socialmente responsáveis.
2.1 Ética
A
ética, como reflexão científica e filosófica, estuda os costumes e normas de comportamento. No
presente trabalho essas normas de comportamento serão analisadas no contexto
corporativo. Considerando o contexto social, pode ser dito que os valores
éticos são passíveis de transformações, assim como as sociedades se modificam.
Essas diferenças se dão em épocas e sociedades
distintas. Não são apenas os costumes que variam, mas também os valores que os acompanham,
as próprias normas concretas, os próprios ideais e a própria sabedoria
(VALLS,1996). Assim, para compreensão da ética vigente em uma sociedade, sob a
ótica dos filósofos, é necessário estudar pinturas, esculturas, leis, livros de
medicina, etc. Mas as preocupações no estudo da ética vão muito além das
variações dos costumes, chegando à formulação de princípios universais. Uma boa
teoria ética deveria atender à pretensão de universalidade, ainda que
simultaneamente capaz de explicar as variações de comportamento,
características das diferentes formações culturais e históricas (VALLS,1996).
Filósofos como Sócrates e Kant preocuparam-se com este caráter universal da
ética. Entre as tendências atuais valoriza-se a posição da liberdade como um
ideal ético, privilegiando o aspecto pessoal da ética. Outra perspectiva aponta
a ética nas relações sociais, tendo como ideal ético o de uma vida social mais
justa. Para Valls (1996), a ética preocupa-se com as formas humanas de resolver
as contradições entre necessidade e possibilidade, entre tempo e eternidade,
entre o individual e o social, entre o econômico e o moral, entre o corporal e
o psíquico, entre o natural e o cultural e entre a inteligência e a vontade.
Algumas noções, mesmo que ainda abstratas, permanecem firmes no campo da ética,
como a distinção entre o bem e o mal, ou seja, entre o que é certo e o que é
errado dentro de uma organização. Ainda segundo Valls, hoje os grandes
problemas de ética encontram-se em três esferas: família, sociedade civil e
Estado. Assim, despertar uma consciência eticamente crítica nas pessoas é o desafio que pode ajudá-las a assumir
uma vida de maneira mais ética, e, neste sentido, mais livre e mais
humana. Muitas são as razões que têm levado as organizações a se preocuparem em
promover a ética no ambiente empresarial. Dentre elas: os custos de escândalos
nas empresas, acarretando perda de confiança na reputação da organização, multas
elevadas, desmotivação dos empregados, entre outras (TANSEY, 1995). Entretanto,
para analisar a ética no universo corporativo faz-se necessário, inicialmente,
compreender a sua dimensão nas empresas. Ética dos negócios é o estudo da forma
pela qual as normas morais pessoais se aplicam às atividades e aos objetivos da
empresa comercial. Não se trata de um padrão moral separado, mas do estudo de
como o contexto dos negócios cria problemas próprios e exclusivos à pessoa
moral que atua como um gerente desse sistema (NASH, 1993). A ética é um fator
relevante para garantir a competitividade da empresa. No entanto, ter padrões
éticos significa ter bons negócios em longo prazo. Existem estudos, por
exemplo, o mencionado por Pinedo (2003) indicando a veracidade dessa
afirmativa. Segundo ele, em estudo realizado pela Universidade de Harvard,
empresas éticas e maduras têm resultados 60% melhores que as menos éticas. Na
maioria das vezes, contudo, as empresas reagem a situações de curto prazo
(TANSEY, 1995). Para Nash (1993), empresas preocupadas com padrões de conduta
ética em seu relacionamento com clientes, fornecedores, funcionários e governantes,
ganham a confiança de seus clientes e melhoram o desempenho dos funcionários. Segundo
Tansey (1995), assim como qualquer comportamento ou cultura adotada pela empresa,
a postura ética deve vir da alta administração, ou seja, é a direção quem deve
dar o exemplo aos seus colaboradores. Um dos principais profissionais
multiplicadores da postura ética é o
Executivo de Relações Públicas, visto que ele tem o papel de estabelecer o relacionamento
da organização com seu público e com a fundamentação da ética. Segundo Nash
(1993), cumprir essa responsabilidade exige, no mínimo, uma investigação e um posicionamento
explícito sobre os aspectos éticos da atividade empresarial, desde a estratégia
até a folha de pagamento. A atuação da empresa no mercado também deve ser
considerada, pois a sua forma de agir neste ambiente provoca reflexos internos,
segundo Tansey (1995). Para a autora, não se pode exigir conduta ética dos
funcionários se a empresa está viciada em procedimentos condenáveis. Os padrões
éticos da companhia são a base do comportamento dos funcionários. Um dos
problemas que prejudicam a postura ética nas organizações é a burocracia com
que elas executam suas funções. Segundo Tansey (1995), burocracia demais
atrapalha. Como são muitas as instruções a serem observadas, existe sempre a
possibilidade das empresas não cumprirem uma delas. Além da burocracia,
levantada por Tansey, outros obstáculos à implantação da ética nas organizações
foram levantados por Zoboli (2002). São eles:
• Imposição de regras
sem intenção de considerá-las e o uso da missão da empresa apenas como
conveniência: - Esses obstáculos se apresentam quando a missão da empresa não representa
claramente a meta e a finalidade da organização, mas expressam um conjunto de normas
e regulamentos, os quais não justificam os resultados buscados.
• Alcance de
objetivos a qualquer preço: - Acontece quando a organização busca realizar as suas
metas sem o respeito aos valores e direitos partilhados com a sociedade na qual
está inserida. O bem comum pode ser
assegurado pelo uso de procedimentos idôneos.
• Impaciência e
pressa para alcançar os objetivos organizacionais: - Estas se constituem fatores
para a negligência no trato de questões éticas nas organizações, o que pode por
em risco a satisfação de clientes e colaboradores, podendo levar a um ciclo
negativo e vir a afetar os resultados da organização.
• Perversidade: - Relação
assimétrica e desigual, baseada na racionalidade destrutiva. Acontece quando a
organização isola-se das necessidades e demandas sociais, levando ao esquecimento da sua missão e desmotivação dos seus
integrantes. Os envolvidos podem assumir um comportamento que justifica
a desigualdade, chegando a considerá-la
normal ou nem percebê-la. Um exemplo clássico desta perversidade é representado
pela corrupção social, a qual provoca uma mudança arbitrária de valores. As
organizações que adotam a ética como substância das suas relações e realização
de resultados são organizações que capacitam as pessoas a demonstrarem um
comportamento maduro. Este tipo de
comportamento é demonstrado pela reflexão a respeito dos bens internos,
das atividades e dos meios adequados para atuarem rumo à consecução da ética no
ambiente organizacional. Decorrente dessa reflexão surge uma atuação balizada
pela responsabilidade que a organização para com a sociedade.
2.2 - Responsabilidade Social Empresarial
Moreira (2000)
retrata o modismo que leva as empresas brasileiras a discursarem sobre ética e
desenvolverem códigos de comportamento para seus funcionários. Apontando paradoxos,
o autor demonstra a constante evidência de casos e “causos” de violação de princípios
éticos elementares e afirma que tal paradoxo torna-se inteligível quando são examinados
os traços básicos da cultura nacional (como o formalismo, as esferas culturais
da casa e da
rua, o jeitinho, entre outros) e se admite a influência de tais traços nas
organizações instaladas no país. Melo Neto e Froes (apud MENDONÇA e GONÇALVES,
2002) afirmam que houve uma mudança no foco da responsabilidade social
corporativa, das ações meramente filantrópicas para ações mais substanciais que
proporcionem o desenvolvimento social. Conforme Mendonça e Gonçalves (2002),
atualmente muitas empresas brasileiras buscam legitimidade através de ações de
cunho social por reconhecerem e/ou acreditarem que estas ações podem ter impactos positivos na imagem da
organização. Os autores pressupõem a existência de organizações que
desenvolvem ações sociais condizentes com seus valores organizacionais. Porém,
outras parecem objetivar a criação de uma imagem de responsabilidade social estabelecendo uma estratégia mercadológica não
condizente com os valores e práticas da organização. Segundo Moreira (2000), atualmente,
na sociedade brasileira encontram-se sinais dos fatores que desencadearam
mundialmente as preocupações com a ética e a responsabilidade social nos negócios. Estes são: as pressões pela
conservação do meio ambiente, o fortalecimento dos movimentos de defesa do
consumidor, as denúncias sobreirresponsabilidades no setor da saúde, os
esforços contra o trabalho infantil e outros. Assim, as empresas têm dado maior
importância às posturas éticas em relação aos seus funcionários e à comunidade
em geral, por meio da divulgação de seus códigos internos de ética, projetos de
reflorestamento, fundações educacionais e
engajando-se em atividades filantrópicas. Acredita-se que esta postura é
determinante para consolidar uma imagem positiva perante clientes e funcionários
e, por sua vez, fundamental para a perenidade da empresa. A Responsabilidade Social Empresarial (RSE) tem
como fundamento o compromisso ético da empresa para com seus stakeholders, ou seja, clientes,
fornecedores, empregados, parceiros e colaboradores. A empresa é considerada
ética se cumprir todos os compromissos éticos
que tiver, ou seja, agir de forma honesta com todos aqueles que têm algum tipo
de relacionamento com ela. Estão envolvidos neste grupo os clientes, os
fornecedores, os sócios, os funcionários, o
governo e a comunidade como um todo (TANSEY, 1995). A responsabilidade
social empresarial ou corporativa, desde o início da última década, vem sendo
discutida no meio acadêmico, porém, ganhou força no Brasil especialmente a
partir da criação do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, em
setembro de 1998. No meio empresarial ela tomou maior impulso com o surgimento
denormas e padrões de certificação social e
ambiental, tais como a Social Accountability 8000(SA8000), Account Ability 1000
(AA1000) e International Standard Organization 14000(ISO14000). Neste cenário mutante e demasiadamente complexo,
as organizações operam e lutam para se manter, para cumprir sua missão e
visão e para cultivar seus valores (KUNSCH,1974). Neste contexto de mudanças e
de transformações sociais, econômicas e tecnológicas pelo qual passam as
organizações, percebe-se a preocupação com o estabelecimento de padrões de
ética e responsabilidade social em suas atividades. Parece lícito afirmar que
hoje em dia as organizações precisam estar atentas não só às suas
responsabilidades econômicas e legais, mas também às suas responsabilidades
éticas, morais e sociais (ASHLEY, 2002). Por meio das considerações apresentadas
pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), pode-se
dizer que o fato de uma empresa oferecer o melhor produto ou serviço para
seus consumidores não quer dizer que ela tenha ética nas suas relações.
Principalmente se, por exemplo, no desenvolvimento de suas atividades, não se preocupar
com a poluição gerada no meio ambiente (SEBRAE, 2003). Além da preocupação com
o meio ambiente, para considerar que uma empresa tenha ética nas suas relações,
outro valor bastante importante é a transparência, principalmente em determinados
segmentos, tais como o tratado neste estudo. Se não tiver transparência na condução dos negócios a empresa pode ser
prejudicada. Um exemplo dado pelo SEBRAE (2003) é o das empresas que
sonegam informações importantes sobre seus produtos e serviços. Futuramente,
elas podem ser responsabilizadas por omissão.
8. REFERÊNCIAS
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