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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

ÉTICA EM FUNERAIS E RESPONSABILIDADE SOCIAL



 

Responsabilidade Social e Ética nos Serviços Funerários

Autoria: Breyner Estanislau Silva de Carvalho

RESUMO
O presente artigo tem o intuito de apresentar os resultados do estudo a respeito do posicionamento das organizações funerárias diante da preocupação com a Responsabilidade Social e a Ética. Os serviços funerários atuam junto aos seus clientes em ocasiões de extrema fragilidade emocional, consequência da perda de entes queridos, e como tal, os conceitos éticos e de responsabilidade social, parecem assumir uma dimensão maior e, portanto passível de análise. O trabalho aborda conceitos contemporâneos do tema sob a visão de alguns autores, quanto à Responsabilidade Social externa e interna das organizações e as orientações éticas corporativas, em função dos aspectos culturais, econômicos e políticos. Neste sentido procura-se confrontar visões conceituais com evidências dos serviços funerários prestados em nosso país e igualmente em países como a Itália e Estados Unidos. O estudo conclui que o segmento funerário tem buscado cada vez mais a profissionalização, o que não era uma preocupação do setor há poucos anos atrás. Procura-se também identificar a regulamentação vigente do setor, em busca do compromisso ético com as comunidades. Porém este movimento está longe de dizimar algumas barbáries que alguns cidadãos ainda sofrem diante da perda de seus entes queridos no trato com as organizações funerárias. Por fim, pretendeu-se iniciar uma discussão, identificando as fragilidades do serviço funerário e enfatizando os esforços que o setor tem feito em busca da profissionalização.

1. INTRODUÇÃO

Identificar as fragilidades e deficiências dos serviços prestados pelas empresas funerárias motiva a busca do entendimento da real importância da profissionalização do setor, visto que qualquer pessoa é potencialmente cliente dos serviços destas empresas. A empresa funerária tem uma importância social que vai além das diretrizes e estratégias organizacionais gerais e como tal, deve, sobretudo, se preocupar com os preceitos éticos e com a responsabilidade social no exercício de suas atividades. Desta maneira, como uma empresa prestadora de serviços funerários pode contribuir para o desenvolvimento da ética e do comprometimento com a responsabilidade social, sendo que o serviço oferecido é direcionado a clientes que se encontram em momentos de demasiada fragilidade emocional? É o que se pretende apresentar com este trabalho, o qual tem como objetivo contextualizar as ações das empresas funerárias no campo da Ética e da Responsabilidade Social.

2. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL – A IMPORTÂNCIA NO NOVO CENÁRIO EMPRESARIAL

Atualmente as pessoas, em geral, apresentam uma maior preocupação com o bem-estar e a qualidade de vida, consubstanciadas numa ética de valorização do ser humano, ao invés do padrão de produção capitalista, o qual prega a realização econômica em detrimento da realização pessoal. Há também uma maior conscientização da importância da participação das empresas na preservação do meio ambiente, da participação dos trabalhadores na tomada de decisão e nos resultados da atividade produtiva e da necessidade de melhoria dos padrões de qualidade de vida da comunidade que com que ela se relaciona. Esse contexto tem trazido a discussão sobre ética e responsabilidade social das empresas para a literatura econômica, administrativa e jurídica, sem contar que, tradicionalmente, esses temas são abordados por filósofos e sociólogos. A inclusão destes temas tem colaborado, inclusive, para o surgimento de associações empresariais e acadêmicas envolvidas na disseminação de práticas eticamente corretas e socialmente responsáveis. O benefício da realização dessas práticas ocorre não somente para as organizações envolvidas, mas também para todos os envolvidos ou impactados pelas atividades econômicas levadas a cabo pelo setor empresarial, os chamados stakeholders. Assim, tem sido possível a uma parcela significativa da sociedade, adquirir conhecimentos sobre ética. Ao mesmo tempo a sociedade pode esperar, e exigir, das empresas que elas contribuam para o desenvolvimento da comunidade, sendo socialmente responsáveis.
2.1 Ética

A ética, como reflexão científica e filosófica, estuda os costumes e normas de comportamento. No presente trabalho essas normas de comportamento serão analisadas no contexto corporativo. Considerando o contexto social, pode ser dito que os valores éticos são passíveis de transformações, assim como as sociedades se modificam. Essas diferenças se dão em épocas e sociedades distintas. Não são apenas os costumes que variam, mas também os valores que os acompanham, as próprias normas concretas, os próprios ideais e a própria sabedoria (VALLS,1996). Assim, para compreensão da ética vigente em uma sociedade, sob a ótica dos filósofos, é necessário estudar pinturas, esculturas, leis, livros de medicina, etc. Mas as preocupações no estudo da ética vão muito além das variações dos costumes, chegando à formulação de princípios universais. Uma boa teoria ética deveria atender à pretensão de universalidade, ainda que simultaneamente capaz de explicar as variações de comportamento, características das diferentes formações culturais e históricas (VALLS,1996). Filósofos como Sócrates e Kant preocuparam-se com este caráter universal da ética. Entre as tendências atuais valoriza-se a posição da liberdade como um ideal ético, privilegiando o aspecto pessoal da ética. Outra perspectiva aponta a ética nas relações sociais, tendo como ideal ético o de uma vida social mais justa. Para Valls (1996), a ética preocupa-se com as formas humanas de resolver as contradições entre necessidade e possibilidade, entre tempo e eternidade, entre o individual e o social, entre o econômico e o moral, entre o corporal e o psíquico, entre o natural e o cultural e entre a inteligência e a vontade. Algumas noções, mesmo que ainda abstratas, permanecem firmes no campo da ética, como a distinção entre o bem e o mal, ou seja, entre o que é certo e o que é errado dentro de uma organização. Ainda segundo Valls, hoje os grandes problemas de ética encontram-se em três esferas: família, sociedade civil e Estado. Assim, despertar uma consciência eticamente crítica nas pessoas é o desafio que pode ajudá-las a assumir uma vida de maneira mais ética, e, neste sentido, mais livre e mais humana. Muitas são as razões que têm levado as organizações a se preocuparem em promover a ética no ambiente empresarial. Dentre elas: os custos de escândalos nas empresas, acarretando perda de confiança na reputação da organização, multas elevadas, desmotivação dos empregados, entre outras (TANSEY, 1995). Entretanto, para analisar a ética no universo corporativo faz-se necessário, inicialmente, compreender a sua dimensão nas empresas. Ética dos negócios é o estudo da forma pela qual as normas morais pessoais se aplicam às atividades e aos objetivos da empresa comercial. Não se trata de um padrão moral separado, mas do estudo de como o contexto dos negócios cria problemas próprios e exclusivos à pessoa moral que atua como um gerente desse sistema (NASH, 1993). A ética é um fator relevante para garantir a competitividade da empresa. No entanto, ter padrões éticos significa ter bons negócios em longo prazo. Existem estudos, por exemplo, o mencionado por Pinedo (2003) indicando a veracidade dessa afirmativa. Segundo ele, em estudo realizado pela Universidade de Harvard, empresas éticas e maduras têm resultados 60% melhores que as menos éticas. Na maioria das vezes, contudo, as empresas reagem a situações de curto prazo (TANSEY, 1995). Para Nash (1993), empresas preocupadas com padrões de conduta ética em seu relacionamento com clientes, fornecedores, funcionários e governantes, ganham a confiança de seus clientes e melhoram o desempenho dos funcionários. Segundo Tansey (1995), assim como qualquer comportamento ou cultura adotada pela empresa, a postura ética deve vir da alta administração, ou seja, é a direção quem deve dar o exemplo aos seus colaboradores. Um dos principais profissionais multiplicadores da postura ética é o Executivo de Relações Públicas, visto que ele tem o papel de estabelecer o relacionamento da organização com seu público e com a fundamentação da ética. Segundo Nash (1993), cumprir essa responsabilidade exige, no mínimo, uma investigação e um posicionamento explícito sobre os aspectos éticos da atividade empresarial, desde a estratégia até a folha de pagamento. A atuação da empresa no mercado também deve ser considerada, pois a sua forma de agir neste ambiente provoca reflexos internos, segundo Tansey (1995). Para a autora, não se pode exigir conduta ética dos funcionários se a empresa está viciada em procedimentos condenáveis. Os padrões éticos da companhia são a base do comportamento dos funcionários. Um dos problemas que prejudicam a postura ética nas organizações é a burocracia com que elas executam suas funções. Segundo Tansey (1995), burocracia demais atrapalha. Como são muitas as instruções a serem observadas, existe sempre a possibilidade das empresas não cumprirem uma delas. Além da burocracia, levantada por Tansey, outros obstáculos à implantação da ética nas organizações foram levantados por Zoboli (2002). São eles:
• Imposição de regras sem intenção de considerá-las e o uso da missão da empresa apenas como conveniência: - Esses obstáculos se apresentam quando a missão da empresa não representa claramente a meta e a finalidade da organização, mas expressam um conjunto de normas e regulamentos, os quais não justificam os resultados buscados.
• Alcance de objetivos a qualquer preço: - Acontece quando a organização busca realizar as suas metas sem o respeito aos valores e direitos partilhados com a sociedade na qual está inserida. O bem comum pode ser assegurado pelo uso de procedimentos idôneos.
• Impaciência e pressa para alcançar os objetivos organizacionais: - Estas se constituem fatores para a negligência no trato de questões éticas nas organizações, o que pode por em risco a satisfação de clientes e colaboradores, podendo levar a um ciclo negativo e vir a afetar os resultados da organização.
• Perversidade: - Relação assimétrica e desigual, baseada na racionalidade destrutiva. Acontece quando a organização isola-se das necessidades e demandas sociais, levando ao esquecimento da sua missão e desmotivação dos seus integrantes. Os envolvidos podem assumir um comportamento que justifica a  desigualdade, chegando a considerá-la normal ou nem percebê-la. Um exemplo clássico desta perversidade é representado pela corrupção social, a qual provoca uma mudança arbitrária de valores. As organizações que adotam a ética como substância das suas relações e realização de resultados são organizações que capacitam as pessoas a demonstrarem um comportamento maduro. Este tipo de comportamento é demonstrado pela reflexão a respeito dos bens internos, das atividades e dos meios adequados para atuarem rumo à consecução da ética no ambiente organizacional. Decorrente dessa reflexão surge uma atuação balizada pela responsabilidade que a organização para com a sociedade.
2.2 - Responsabilidade Social Empresarial

Moreira (2000) retrata o modismo que leva as empresas brasileiras a discursarem sobre ética e desenvolverem códigos de comportamento para seus funcionários. Apontando paradoxos, o autor demonstra a constante evidência de casos e “causos” de violação de princípios éticos elementares e afirma que tal paradoxo torna-se inteligível quando são examinados os traços básicos da cultura nacional (como o formalismo, as esferas culturais da casa e da rua, o jeitinho, entre outros) e se admite a influência de tais traços nas organizações instaladas no país. Melo Neto e Froes (apud MENDONÇA e GONÇALVES, 2002) afirmam que houve uma mudança no foco da responsabilidade social corporativa, das ações meramente filantrópicas para ações mais substanciais que proporcionem o desenvolvimento social. Conforme Mendonça e Gonçalves (2002), atualmente muitas empresas brasileiras buscam legitimidade através de ações de cunho social por reconhecerem e/ou acreditarem que estas ações podem ter impactos positivos na imagem da organização. Os autores pressupõem a existência de organizações que desenvolvem ações sociais condizentes com seus valores organizacionais. Porém, outras parecem objetivar a criação de uma imagem de responsabilidade social estabelecendo uma estratégia mercadológica não condizente com os valores e práticas da organização. Segundo Moreira (2000), atualmente, na sociedade brasileira encontram-se sinais dos fatores que desencadearam mundialmente as preocupações com a ética e a responsabilidade social nos negócios. Estes são: as pressões pela conservação do meio ambiente, o fortalecimento dos movimentos de defesa do consumidor, as denúncias sobreirresponsabilidades no setor da saúde, os esforços contra o trabalho infantil e outros. Assim, as empresas têm dado maior importância às posturas éticas em relação aos seus funcionários e à comunidade em geral, por meio da divulgação de seus códigos internos de ética, projetos de reflorestamento, fundações educacionais e engajando-se em atividades filantrópicas. Acredita-se que esta postura é determinante para consolidar uma imagem positiva perante clientes e funcionários e, por sua vez, fundamental para a perenidade da empresa. A Responsabilidade Social Empresarial (RSE) tem como fundamento o compromisso ético da empresa para com seus stakeholders, ou seja, clientes, fornecedores, empregados, parceiros e colaboradores. A empresa é considerada ética se cumprir todos os compromissos éticos que tiver, ou seja, agir de forma honesta com todos aqueles que têm algum tipo de relacionamento com ela. Estão envolvidos neste grupo os clientes, os fornecedores, os sócios, os funcionários, o governo e a comunidade como um todo (TANSEY, 1995). A responsabilidade social empresarial ou corporativa, desde o início da última década, vem sendo discutida no meio acadêmico, porém, ganhou força no Brasil especialmente a partir da criação do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, em setembro de 1998. No meio empresarial ela tomou maior impulso com o surgimento denormas e padrões de certificação social e ambiental, tais como a Social Accountability 8000(SA8000), Account Ability 1000 (AA1000) e International Standard Organization 14000(ISO14000). Neste cenário mutante e demasiadamente complexo, as organizações operam e lutam para se manter, para cumprir sua missão e visão e para cultivar seus valores (KUNSCH,1974). Neste contexto de mudanças e de transformações sociais, econômicas e tecnológicas pelo qual passam as organizações, percebe-se a preocupação com o estabelecimento de padrões de ética e responsabilidade social em suas atividades. Parece lícito afirmar que hoje em dia as organizações precisam estar atentas não só às suas responsabilidades econômicas e legais, mas também às suas responsabilidades éticas, morais e sociais (ASHLEY, 2002). Por meio das considerações apresentadas pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), pode-se dizer que o fato de uma empresa oferecer o melhor produto ou serviço para seus consumidores não quer dizer que ela tenha ética nas suas relações. Principalmente se, por exemplo, no desenvolvimento de suas atividades, não se preocupar com a poluição gerada no meio ambiente (SEBRAE, 2003). Além da preocupação com o meio ambiente, para considerar que uma empresa tenha ética nas suas relações, outro valor bastante importante é a transparência, principalmente em determinados segmentos, tais como o tratado neste estudo. Se não tiver transparência na condução dos negócios a empresa pode ser prejudicada. Um exemplo dado pelo SEBRAE (2003) é o das empresas que sonegam informações importantes sobre seus produtos e serviços. Futuramente, elas podem ser responsabilizadas por omissão.


8. REFERÊNCIAS
ASHLEY, Patrícia Almeida (coord).
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São Paulo: Saraiva, 2002.
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Responsabilidade social nas empresas: uma questão de imagem ou de substância?
 Artigo - ANPAD. Universidade Federal de Pernambuco –Observatório/PROPAD/UFPE – Recife –PE. CD-ROM: MOREIRA, Carlos Augusto Amaral C.
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Ética nas empresas: boas intenções à parte.
São Paulo: Makron Books,1993.PINEDO, Victor. Ética e Valores nas Empresas: em direção às corporações éticas. São Paulo: Instituto Ethos, out. 2003. Disponível em: <www.ethos.org.br> Acesso em: 07 out. 2004. SANTARÉM, Robson.
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Responsabilidade Social Empresarial Para Micro e Pequenas Empresas: Passo a passo.
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Ética e Administração Hospitalar. São Paulo: Loyola, 2002.

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