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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

ALGUNS IML'S EM ESTADO DE CALAMIDADE

Problemas passam ainda por câmaras quebradas e equipe reduzida.
G1 flagra cenas de irregularidades; Estado promete mudanças.

 

Corpos abandonados no chão, armazenados em uma sala sem refrigeração e o uso de serrotes e bases de madeira — métodos considerados obsoletos — para fazer exames necroscópicos. Macas enferrujadas que ficam em salas sujas, com insetos e que têm lixo contaminado guardado de forma irregular.

Sujeira no IML de Jacareí que fica fechado durante
todo o dia. (Foto: Carolina Teodora/G1)

 Essas são algumas das situações encontradas pelo G1 em quatro unidades do Instituto Médico Legal (IML) do Vale do Paraíba — São José dos Campos, Jacareí, Pindamonhangaba e Taubaté, todas no interior de São Paulo. Juntos, estes institutos foram responsáveis por emitir mais de 18 mil laudos sobre a causa de morte e de corpo de delito em 2012.

Serrotes - Fferramentas nada recomendável para se usar em necropsias.

 

Entre as irregularidades flagradas pelo G1 está a chegada de um corpo no IML de Taubaté que está interditado pela Vigilância Sanitária há mais de um ano — desde novembro de 2011. Segundo os funcionários, a prática é irregular, mas é necessária diante da falta de vagas no IML de Pindamonhangaba — que ficou responsável por acumular o serviço da equipe de Taubaté desde a interdição.
O G1 apurou que o IML de Taubaté recebeu irregularmente cerca de 20 corpos em 2012. A Vigilância Sanitária do Estado informou nesta sexta-feira (17) que para a desinterdição do IML de Taubaté é necessária a conclusão das readequações na área física da unidade. A pasta não informou quais readequações serão realizadas nem o prazo para as obras.

Taubaté

Além de estar interditado por falta de estrutura, o IML de Taubaté é um exemplo também de desperdício de dinheiro público. O local conta com equipamentos modernos que nunca foram utilizados e estão acumulando ferrugem e poeira. Exemplo disso são as duas câmaras frias, que têm capacidade para receber seis corpos, compradas pelo Estado em 2012 por R$ 121 mil — já quando a unidade estava interditada. O equipamento nunca entrou em operação e já está enferrujado.

Pindamonhangaba

Enquanto isso, na unidade de Pindamonhangaba que acumula o atendimento de Taubaté, uma das geladeiras está quebrada o que reduz a capacidade de armazenar corpos na refrigeração. "Às vezes colocamos dois corpos na mesma gaveta", disse uma funcionária. No local, também são utilizados serrotes e bases de madeira para a realização de necropsias.

Jacareí

A sala de necropsia de Jacareí é a pior entre as unidades visitadas pela equipe de reportagem. No dia em que a reportagem esteve no local, na última sexta-feira (11),  um corpo carbonizado estava no chão porque não tinha espaço na câmara fria. A porta da sala de necropsia não fecha e os exaustores não funcionam. A câmara fria do IML de Jacareí conta com apenas quatro gavetas - mesma capacidade desde a década de 80.

São José dos Campos

Quando chove, o corredor que dá acesso à sala de necropsia do IML de São José dos Campos, principal cidade do Vale do Paraíba, sofre com goteiras já que o forro do telhado está quebrado em alguns locais. Um dos banheiros utilizado pelo público também não funciona. As portas de acesso às salas de necropsia não fecham.

Raio X

O G1 apurou também que não existe nenhum aparelho de raio X nos IMLs da região — que conta ainda com unidades em Cruzeiro, Guaratinguetá e São Sebastião. A falta do aparelho faz com que não seja identificada a causa da morte de parte das vítimas de  homicídio — principal responsabilidade do IML.
“A gente acaba demorando muito para achar o projétil no corpo e, por muitas vezes, nem encontramos e por isso não conseguimos apontar com exatidão a causa da morte. Daí, colocamos no laudo que não foi localizado [o projétil] apesar da exaustiva procura e o médico reforça que não temos raio X”, disse uma funcionária do IML de São Sebastião, que pediu para não ter o nome divulgado.
Um médico do IML de São José dos Campos, que também pediu para não ter o nome revelado, afirmou que a falta de raio X faz com que o resultado do exame seja ‘intuitivo’. “Há menos de uma semana tinha um cara baleado. Falei para o auxiliar olhar no braço e lá tinha [a bala]. Mas é quase intuitivo, com base na experiência”, disse o médico.
Além da falta de raio X, o IML de São José dos Campos, principal cidade da região, tem goteiras por conta da falta de forro em alguns locais. Também não tem nenhuma segurança, como policiais ou guardas-civis municipais, e as portas da área de acesso e da própria sala de exame necroscópico estão com a fechadura quebrada, apesar da placa na própria porta informando ‘mantenha a porta fechada’.
Existem poucas viaturas para as equipes de necropsia e as que existem têm a manuteção custeada pelos próprios servidores. "É uma burocracia muito grande e eu acabo pagando do meu bolso a manutenção. Temos apenas uma viatura e se ela ficar parada, não temos como trabalhar", afirmou Reginaldo dos Santos, auxiliar de necropsia.

Médicos

O problema da falta de estrutura das unidades é agravado pela equipe médica reduzida e pelo descumprimento do horário de plantão de parte destes especialistas.
Levantamento feito pelo G1 em todas as sete unidades da região mostra que existem apenas 34 médicos, 22 auxiliares de necropsia e 17 atendentes de necrotério para atender os 39 municípios da região. Parte desses profissionais estão afastados por doenças ou férias.

Espera

A precariedade afeta diretamente a vida das pessoas que, enquanto sofrem a dor de perder um parente, esperam até 15 horas pela liberação do corpo para iniciar o velório. A empresária de Taubaté Sandra Sousa Lima Monteiro, de 41 anos, passou por essa situação. Ela perdeu a prima de 10 anos em um acidente de carro na última quinta-feira (10) e esperou 17 horas para iniciar o velório.

“Agora as pessoas precisam ter horário para morrer? Disseram que não tinha médico para fazer o exame. O acidente ocorreu às 15h30 da quarta e o corpo só foi liberado às 10h20 de quinta, isso porque procuramos alguns amigos da família para nos ajudar a acelerar o processo”, afirmou Sandra.

Outro lado

A Secretaria de Segurança Pública informou que fará ações imediatas para resolver a situação dos IMLs do Vale do Paraíba. A pasta informou que iniciou a elaboração de um relatório sobre a situação das unidades.
A SSP informou ainda que abriu licitação para instalar um sistema de exaustão no IML de Taubaté, para que o local seja liberado para realizar necropsias. Celso Perioli, comandante da Polícia Técnico-Científica no estado, disse ainda que a limpeza das unidades é de responsabilidade das prefeituras. "Eu me sinto indignado porque na verdade a gente preza para ter as unidades à altura da instituição", disse Perioli.
Sobre a falta de raio X, ele disse que o estado não conta com técnicos especializados em operar os aparelhos e que por isso não existem equipamentos nos institutos. Perioli disse ainda que abriu concurso público para aumentar a equipe de profissionais no Estado e que os novos profissionais devem começar a trabalhar em cinco meses.
As prefeituras de São José dos Campos, Taubaté, Jacareí e Pindamonhangaba foram procuradas para comentar o assunto. A Prefeitura de São José dos Campos informou apenas que se a polícia solicitar apoio da Guarda Municipal o pedido será analisado.
A Prefeitura de Taubaté informou que  a situação do IML vem desde a última gestão, mas que o novo governo iniciou um levantamento das demandas do departamento. A Prefeitura de Jacareí foi procurada nesta sexta-feira (17), mas não respondeu a reportagem. A Prefeitura de Pindamonhangaba informou que a geladeira que estava com defeito foi enviada para manutenção e a liberação de uma nova geladeira comprada no ano passado.
 
Fonte: G1.com

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