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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

ENTRE A WEB E O ALÉM

Parentes e amigos usam redes sociais para matar a saudade de entes falecidos

Memorial online acaba sendo substituição de álbuns de fotos e cartas

31/10/2012 07:29 - NATHÁLIA GUIMARÃES, da Folha de Pernambuco

 
 
 
 
 
 
 
 
 
Hesíodo Góes/Folha de Pernambuco
 

 
A morte é um tema delicado em várias religiões, em diversas sociedades e, claro, também nas redes sociais. São muitos os perfis que, mesmo após o falecimento do proprietário, continuam ativos nos sites. Estas páginas motivam os usuários a exercerem uma atividade curiosa, uma espécie de memorial online com mensagens de saudades pela perda da pessoa. Engana-se quem acha que essas ações surgiram junto com a popularidade do Facebook. O comportamento “mórbido” é datado de outra rede social.
Tudo começou com o esquecido Orkut. Como muitos não sabiam solicitar a exclusão da conta do familiar que morreu, o perfil ficava ativo sendo alvo de curiosos. Assim surgiu, em 2004, a comunidade “† PGM †” (Profiles de Gente Morta). Hoje extinto, o grupo que já chegou a ter 80 mil membros ativos, era dedicado à pesquisa e compartilhamento de perfis de pessoas que faleceram, como se fosse um cemitério virtual. Nos tópicos, além da causa da morte, era possível encontrar informações pessoais sobre o falecido e discussões filosóficas e religiosas sobre a vida e a morte.
Não são raros os casos de perfis de “mortos” nas redes. Todo mundo conhece alguém que faleceu e, poucos minutos depois, o perfil dela recebeu dezenas de mensagens de amigos e familiares lamentando o ocorrido. Pode-se observar que, mesmo muito tempo depois do acontecido, usuários continuam a visitar estes perfis. Foi o que ocorreu com a página do primo de Juliana Guimarães, estudante de 24 anos. “Ele faleceu há dois anos. Como era uma pessoa muito popular, dezenas de recados ficavam acumulados na sua timeline”, contou.
Para a estudante, esse comportamento acaba expondo o ente que se foi. Quando percebeu esse fato ela pediu autorização dos tios para apagar a página do primo na rede. “Não tenho nada contra quem prefere deixar o perfil ativo, mas, sempre achei muito estranho o comportamento de algumas pessoas que insistiam em publicar recados como se ele ainda estivesse vivo”, explica.
Guimarães confessa que deixa suas senhas com alguém de sua confiança. “Nunca se sabe sobre o dia de amanhã, se algo acontecer comigo quero que apaguem logo meus perfis”, lembra.
Já para Marianne Barbosa, professora de 32 anos, permitir que a página do ente querido fique ativa é uma maneira de lembrá-lo todos os dias. A professora, que perdeu o irmão há um ano, faz questão de ler as mensagens carinhosas e, quando a saudade aperta, olha a página dele. “É uma outra maneira de eternizá-lo. Nossos pais queriam apagar a conta logo quando o incidente aconteceu, mas acabamos encontramos conforto nas mensagens de carinho que os amigos dele deixaram em seu perfil”, comenta.
A melhor amiga do irmão de Marianne, a contadora Isabella Carvalho, de 27 anos, concorda com a professora. “Às vezes bate uma saudade, vou lá e deixo um recado. Claro que tenho a consciência que ele não poderá ler, mas sinto uma espécie de alívio ao expressar esse sentimento”, diz. Ela complementa contando que o seu amigo era uma pessoa muito alegre, por isso frequentemente olha suas fotos que ainda estão hospedadas na rede. “Posso ver o sorriso dele sempre que quiser, sei que outros amigos ficam felizes por ter essa possibilidade também”, afirma.
De acordo com a psicóloga Sandra Sampaio, o vínculo virtual abre um novo espaço para relembrar um amigo ou parente. “Trata-se apenas de uma substituição de álbuns de fotos e cartas, por exemplo, passando a ser um novo tipo de arquivo quando é preciso aplacar a saudade”, pontua. Ela complementa explicando que além de uma homenagem, deixar a página do falecido ativa possibilita às pessoas que eram do convívio dele conversem entre si. “Existe essa função social também. Um perfil online deste tipo permite que a rede de amigos da pessoa continue a trocar experiências vivenciadas com ela”, finaliza.

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